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Pois é, eu até prefiro o Vertigo, mas sem dúvidas que esse filme é genial. E o trailer também. E A música nem se fala. Viva Alfred Hitchcock!!!

Ela


Ela quer fugir, só não encontrou algum endereço que lhe satisfaça essa decisão. Ela é um verbo sem rima, uma linha reta, uma antítese poética, uma dialética sem retórica. Ela é uma fugitiva e seu refúgio mais distante é o banheiro no qual tira sua fantasia diante de uma pia que insiste em guardar uma velha escova de dentes.
Ela não tem música pra dançar, sem melodia para assoviar enquanto se arruma para ir à padaria mais próxima. Seu único diálogo é um bom dia ao porteiro e sua maior aventura é qualquer notícia no jornal. Sua eloqüência é o barulho da TV e seu encanto é um roupão ao lado do sofá. Desnuda de qualquer homem, de qualquer abraço, de qualquer sorriso que lhe desse um beijo.
Ela acredita no amor. Talvez porque ela se encante com tantas mentiras gostosas. Talvez porque algum poeta cruzou o seu caminho. Talvez porque alguém a dedicou uma canção qualquer dos Beatles ou de Vinicius de Moraes. Ela quer mesmo fugir, só não sabe o que levar: minha guerra declarada contra o amor, minha complexidade de um aprendiz de poeta ou sua própria indagação de uma piada sem graça e uma boca sem beijo. Ela é linda, porque seu corpo sem rima é aonde enumero meu coração. Ela é linda, uma canção que Deus hesita em cantar.

Spider-Man! Everybody Gets One.

Ela estava sentada ecutando música. ele também.
Ela estava usando a mão como se fossem baquetas e a cabeça fazia um movimento pra frente que fazia seu cabelo descer na testa. ele também.
Os dois escutavam músicas. das possibillidades distintas do que poderia ser, ele imagina que talvez fosse uma de suas bandas preferidas. Algo como uma coisa que uma menina levemente atraente escutaria no ônibus e que parecia dancante. uma dança discreta, como se ninguem mais visse. Ele pensou em Kings Of Convenience, I'd Rather Dance With You, mas na certa deveria ser demais pra sua vontade.
Numa certa altura, os dois começaram a dançar suas músicas separadamente, como se estivessem em sintonia. Os dois se olharam e ela, docemente riu. Como se imaginasse:
"ainda bem que não sou a única".
Ele, por falta de coragem em tomar uma decisão logo imaginou diálogos interessantes e falas que poderiam ser ditas a ela tal como:
"olá senhorita, te achei deveras interessante mas temo que minha timidez seja um empecilho para tal comunicação"


Desceram do ônibus na mesma parada. Ele acendeu o cigarro, tragou, soltou a fumaça e acordou dessa doce e estranha frustração.

Aquele abraço



Para aqueles que reclamam dos preços em museus e teatros, mas pagam mais de cem reais em uma boate. Para aqueles que cultivam a cultura, mas preferem guardar o conhecimento na prateleira a mostrar para o povo. Para aqueles que reclamam da política, mas não se lembram em quem votou, porque antes do presidente, o deputado é a sua voz. Para aqueles que acham que cinema só é cinema se for culto, cult, contemplativo, dramático e não sabem o quanto é divertido ver Arnold Schwarzenegger dar tiros para todos os lados e explodir carros.
Um salve também para todos aqueles que se comovem ao ver um cachorro procurando comida no lixo e chamam de trombadinha uma criança dormindo nas ruas ou morando em um barraco quase por cair. Para todos que culpam a mãe natureza pelos deslizamentos, tragédias e enchentes, mas esquecem que construíram em barragens e jogaram lixos nos bueiros.
Um abraço para aqueles que vão à igreja achando que vinte ave-marias bastam para se desculparem e chegando em casa, gozam da desgraça dos outros. Um forte abraço também para todos que querem paz tirando a dos outros. E a todos que bebem e fumam usando o argumento de ser um ato social. Considere minha homenagem também para aqueles que passam horas se lamentando da própria desgraça e usam como desculpa a influência de lua no mapa astral. Para todos que juram eterno amor, mas vejam no sexo casual um divertimento porque traição sua é comédia para os outros.
Um abraço para todos que levantam uma bandeira para qualquer causa. Seja ela o racismo, gays, católicos, evangélicos. Porque parabéns, vocês estão contribuindo para o preconceito. Porque se você é da raça negra, amarela, vermelha ou branca o problema é seu. Eu sou da raça humana. Também aos gays que se comportam como mulheres e às lésbicas que se comportam como homens deixo meu abraço, pois a fantasia que vocês se vestem é mais preconceituosa do que as suas sexualidades. Porque um homem ou mulher que se comporta como o sexo oposto está sendo preconceituoso com ele mesmo.
Não posso me esquecer de mandar meu alô para os que moram em apartamentos no Leblon, Cambuí, Moema, Alphaville ou Jardins e levantam a bandeira hippie e não ao consumismo. Para todos aqueles que vestem a camisa do Che e nem sabem que ele é argentino. Para todas as pessoas que tiram fotos de si mesmas no espelho e postam no Orkut. Para todos que se acham modernos usando roupas e óculos que Bob Dylan usava há 40 anos atrás. Para todos que vão à Tock & Stock comprar móveis contemporâneos e não sabem que nos anos de 1930 a escola Bauhaus já tinha criado tudo isso. Para todos que lêem somente as manchetes de jornais e saem por ai opinando e criando argumentos que sustentam toda burrice humana. Para, também, quem paga milhões de dólares em quadros que teu filho desenharia melhor. E meu último salve para quem não sabe o que significa na tonga da mironga do kabuletê.

Queimando tudo

O começo é como todos os outros. Você corteja, olha, julga, vê se está boa, para aí sim poder comprá-la. Logo em seguida, você faz o procedimento padrão, que é dar carinho, amor e paciência. Perfume-a bem direitinho com os mais diversos aromas. Dê um tempo. Pouco. E logo depois você já fica convencido de que o consumo será prazeroso. Dá um tapa, joga em cima da cama. É o suficiente pra ela começar a gritar, muito. Daí você continua com a tortura, vira ela, e faz ela gritar mais. Passados alguns minutos a satisfação é garantida.

Também funciona com um bife.