Estação inferno

Já estou cansado e mal acordei. Estou na estação do metrô, eu e muitos outros indivíduos. Já estou desanimado de ter andado até aqui, mas quando chego, meu ânimo acaba. Muitas filas, pessoas se empurrando, passando na frente dos outros na tentativa de ganhar alguma vantagem, mesmo ela sendo mínima e que no final, vão chegar no mesmo tempo que iriam se fossem mais educados. Vários exemplos de selvageria, poderia ser usado em uma aula de "o que não se deve fazer".

Em meio a isto tudo, dois caras começam a discutir... sei lá porque, acho que um pisou no pé do outro ou foi empurrado, com tanta gente encostada uma na outra é difícil identificar o que está acontecendo, mas eles começam a se xingar, é fdp pra cá, fdp pra lá... ameaças...

- Você não sabe de onde eu venho, sou da quebrada tal. - o outro responde aos berros

- E eu sou da quebrada tal, você não sabe com quem tá falando, mano, não tem medo de morrer não? - Se ele tem medo de morrer eu não sei, mas tenho medo de ficar mais idiota ouvindo essas merdas.

Continuaram nas ameaças, tinha seu lado cômico ouvir isso logo de manhã, mas no final, eu tô pouco me fodendo para de onde esses caras são, e se um vai matar o outro. E no final, e daí de onde você é? Você é "mau" pelo bairro de onde veio? Ou será que você não se garante e vai ter que chamar seus vizinhos?? Por mim os dois poderiam vir do inferno que eu não estaria interessado em ouvi-los. Durante toda a discussão, um guarda do metrô fica olhando para eles com cara de assustado, ótima atitude, ainda fico me perguntando para que esses caras servem.

Passam mais uns dois trens para que os caras "maus" consigam entrar, eu só entro dois depois... cruel. Se eu quisesse discutir com quem me empurrou ou pisou em mim, teria discutido com uns vinte ao menos. Mas não sou mau o bastante como os outros dois, além disso, meu bairro não tem nomes assustadores e provavelmente nem iriam conhecer o lugar... e ficar falando de onde veio pra dar uma de fodão na briga é triste... daqui a pouco vão gritar pela mãe pra ajudar também.

Finalmente entro, após quase ser jogado pela outra porta do vagão, consigo parar me segurando no teto, alguém está com o cotovelo no meu pulmão, está difícil até de respirar, tento segurar em algum outro lugar, mas estão a mais de um metro de mim e aqui isso quer dizer umas sete pessoas de distância, seguro no teto mesmo. Estou lá parado, quieto, rezando para que minha estação chegue logo. Duas senhoras estão conversando, pela altura que estão falando, devem estar querendo compartilhar o assunto com todo o vagão. Uma era gordinha, e a outra apenas baixinha, (quase não dava pra ver essa, mas pra ouvir...)

- Maria, você não sabe... - Fala a gordinha como se fosse um fato histórico.

- Mas me conta Joana! - diz desesperadamente a baixinha toda curiosa, nisso eu penso, ela quer saber, mas eu não.

- O filho da Isabel tá até roubando!! Você acredita? Dizem que o menino fuma maconha! Tá roubando pra comprar macooonhaaaa!!!! Pode uma coisa dessas?

Não, não pode uma coisa dessas, eu não posso estar ouvindo isso na maior cidade do país.
E ela continua falando...

- Já roubou a mãe, a casa dos vizinhos e dizem que até tá roubando em outros lugares!! - diz com uma cara de desespero.

- Meu Deus... não acredito!! Um menino tão bonzinho!! Olha o que essas drogas fizeram com ele!! - Quase grita a baixinha

Pára o trem que eu quero descer!!! O menino tão bonzinho foi transformado em um ladrão por causa das drogas, é, ela tem poder de transformar anjos em demônios. Vamos simplificar todos nossos problemas e colocar a culpa em uma única causa. Nada de errado com a sociedade, o governo, a família do garoto, são apenas as drogas que estão acabando com o mundo. Não estou defendendo nada, mas ninguém começa a roubar do nada, de um dia pro outro, já tinha algo errado antes. E não precisa de nada para roubar, basta ter má índole, que digam nossos políticos. Me lembro também dos casos na justiça em que o réu diz "Eu não tive culpa, eu matei e roubei os dois porque estava drogado!", sim, claro, as drogas o fizeram comprar uma arma, planejar um crime e executa-lo. Com certeza ia contar para os amigos com orgulho de ter matado dois filhos da puta, apenas por diversão, claro, diria isso se não tivesse sido pego, mas agora a culpa é das drogas.

Enquanto estava divagando, ouço o nome do meu destino. Deixo as duas senhoritas e outras quinhentas pessoas no vagão e finalmente saio, algumas vezes o tempo não passa. Saio da estação e vou direto para o trabalho, já estou atrasado, fato comum. Olho para minha mesa e vejo, meu fone de ouvido... putz... isso poderia ter me salvo! Como pude esquece-lo aqui! A música podia te me poupado de passar tanta raiva. Bom, pelo menos vou ligar ele agora, que tenho certeza que ainda posso passar muita raiva até o final do dia.

Tríptico


primeiro round:

"sinto uma vontade insuportável de comer, beber, dormir e conversar sobre literatura, ou seja, ficar sem fazer nada e ao mesmo tempo sentir-me um homem honesto. Aliás, se minha ociosidade lhe causa repugnância, posso prometer escrever com você, ou ao seu lado, uma peça, um conto... Que tal? Não quer? Bem, você é quem sabe." Anton Tchekhov

segundo round

"Vontade é uma palavra errada, porque em ultima análise você pode chamá-la de desespero. A fonte do desespero é a absoluta consciência de saber que é impossível realizar essas coisas; dessa maneira eu posso, por assim dizer, fazer qualquer coisa. E a partir desta qualquer coisa, a gente vê o que acontece." Francis Bacon

terceiro round

"I was sayin let me out of here before I was
even born--it's such a gamble when you get a face
It's fascinatin to observe what the mirror does
but when I dine it's for the wall that I set a place

I belong to the blank generation and
I can take it or leave it each time
I belong to the ______ generation but
I can take it or leave it each time" Richard Hell And The Voidoids



Os Beatles voltaram


Déficit de Atenção




Eu tenho algo para fazer, que agora não é necessário revelar. Eu tenho algo para fazer, que mudará tudo o que eu penso. O que eu quero fazer vai ser bem legal, vai ser animado, vai ser recompensador. Eu tenho a leve sensação de que não esperarei muito para isso acontecer. Sei que não. E está tudo pontilhado, tudo pela metade, quase costurado. O que eu quero fazer vai precisar de muita atenção e tempo gasto, muita noite, muito calor e muito suor(não figurativo). Se eu fizer essa coisa, tudo ficará mais fácil, muito melhor para que consiga realização futuras. Eu tenho que tentar fazer isso. Sério. Coca-Cola.

ciga r r o. g us t a v .

k
l i m





t.

Sorte ou azar

Ontem eu sonhei contigo, amor.
Tal qual Chico.
Mas tal sonho foi dionisíaco.
Em meio às suas costas, eu procurava as respostas.
Meu corpo se enchia do céu.
Suas pernas num labirinto.
Achava seu fim.
Abrasada a noite.
Passei minha ponte, seus toques me faziam um poeta.
Sua graça, tirava meu sério.
E tua voz dizia coisas.
Coisa que minha valente vida se desarmou.
Fatal saber que era um bem-me-quer. Entre dous.
Normal era saber que eu podia ser feliz.
Chamava até aquele lugar de nossa cama.
Caí da cama, sorri para o espelho.
Segui meus passos.
Hoje eu sonhei contigo, dor.
Minhas momices sem par estavam a mil.
Incontáveis cigarros. Isqueiro amarelo.
Doses e doses.
Desora para estar aqui.
Foi a sádica conversa das seis da tarde.
Incrédulo.
Seus olhos tinham outro par.
Sua conversa, diverso sotaque.
Teu coração, outro lugar.
Refuguei. Não lutei.
Minha covarde vida se manifestou.
Valia a discórdia? Uma crise de nervos?
É só pensar que não deu.
Ter peito de pedra pra seguir adiante.
Caí do cavalo, chorei para o cinzeiro.
E não pude acordar.

Em
Fenacistoscópio. Abril de 2009.


Exercício.

é assim:

Você está naquele muquifo, num bar na esquina de sua casa. O bar até que lhe é agradavel, todos os dias a mesma coisa pede-se por favor que não mude.
Chega, desce as escadas quase não enxerga nada, escosta a mão na parede e se guia automaticamente até o balcão. Ao redor do balcão estão somente algumas pessoas, tais bêbados que como eu chegam aqui as 21 e saem somente as 2 quando o dono pede atenciosamente para que saiam. O bar ate que é legal, ouve-se musica boa, a cachaça que não deve ser julgada em lugar nenhum, também é boa e de vez em quando o Bigode desce uma porção de amendoins. Ontém, quando cheguei, avistei uma jukebox. Estava lá toda brilhante e pedindo para ser tocada. Como fui o primeiro a chegar dei de cara com aquela maravilha, pedi uma dose, acendi um cigarro e desci as fichas. Passando, Passando, Passando, PARA. Uma pessoa com uma sanfona, cabelinhos lambidos e uma taça de martini quase caindo pisca para mim. Não são lágrimas a toa. São lágrimas selvagens e, de certo, botei o disco inteiro pra tocar.
Acompanho aquela rouquidão como um suplício, tal como uma pessoa a mais sentada naquele balcão. É tentação debaixo de uma garrafa, e querendo esquecer que ao chegar em casa serão somente ratos e baratas.
Mais um dia e mais uma canção.

Conversa de bar




Marquei de tomar umas com uns amigos da faculdade, acabaram-se as férias, botecopróximo da facu, assim me sinto menos culpado de não ir pra aula. Chego lá meia hora atrasado, tinha uma amiga,sentada tomando cerveja, mas tinha acabado de chegar, por isso meu atraso nem foi percebido, ele foi é proposital, pois sabia que ninguém chegaria no horário.. É sempre assim, se fôssemos tão pontuais e certinhos, nem teríamos ido para o bar e sim para a facu, mas esses não seriamos nós.

Nos cumprimentamos, conversamos, bebemos cerveja e peço uma cachaça, e ela também, surgem assuntos sobre o futuro. Ela diz precisamos fazer algo da vida, vamos montar um bar, não quero ser empregada de alguém minha vida toda.

Bem, acho que ela quase não trabalhou para ninguém e mesmo assim já sabe que vai ser um saco. E eu trabalho e sei que é um saco.

É, um saco trabalhar para um boçal que só te explora. Um bar ia ser do caralhomesmo, porra, eu já fico neles todo o meu tempo livre e pago pra isso, se eu ganhasse então, ia ser foda, assim talvez entenderia como é trampar com o que gosta.

Já estava imaginando o bar, até o endereço, baixo augusta, lado underground(ultimamente está mais para hype), um bar com um som de bom gosto, algo que anda difícil de se encontrar, você só acha isso pagando para entrar nas baladas ou bares caríssimos, mas eu não quero isso, eu quero a liberdade de entrar e sair quando quiser e não ter de pagar por isso. Um som com uma playlist decente, vários estilos, classicrock, indie, mpb, boa música.

Também aproveitaria para chamar os amigos que tocam para fazerem um som por lá.
Em meio aos meus devaneios, chegam outros amigos.
Todos como seu copo cheio e começam algum assunto, na verdade eu nem estavaprestando muita atenção na conversa, eu estava pensando na música tosca que tocava na hora. Bebo mais um copo e minha revolta interna com o som termina, já que não adiantaria de nada.

Começo a prestar atenção ao contexto. Estavam falando sobre a tropicália.
Qual vocês acham melhor, a tropicália ou a bossa nova?
Bem, sei lá, acho que não tem comparação, é muito complicado comparar essas coisas.
Começam a surgir as opiniões. Uns acham que é realmente difícil comparar, cada um é bom do seu jeito. Mas a bossa nova é um estilo mais diferenciado, você percebe que ela não é o jazz nem o samba. Enquanto a tropicália é quase o som psicodélico. Bem, eu acho que a tropicália também foi inovadora, foram usados bons argumentos, um deles é músico, eu não, então prefiro não falar nada, e também não tinha nada pra falar, acho que não tem comparação mesmo, cada um tem seus méritos.
Outro diz que a bossa foi um movimento musical muito elitista, a tropicália foi mais popular. É, também concordo que é uma boa justificativa.

Bem, como não haveria solução para a conversa mesmo, acaba surgindo outro assunto, mas na mesma linha.
E qual você prefere, blues ou jazz?
Bem, já digo que gosto mais de blues, sei lá, gosto pessoal mesmo, sei que os caras do jazz tocam pra caralho, gosto de ouvir, tem umas improvisações muito boas, porém, acho o blues uma coisa mais viceral, tem um sentimento mais profundo ou ao menos combina mais comigo.
Um fala que o blues é mais dançavel, o jazz algumas vezes se parece com várias pessoas afinando os intrumentos, estilo o jazz be-bop. Gostei dessa, as vezes parece mesmo.
Outro fala, que nada, que o jazz é divertido sim, dá até pra dançar, não sei se isso é um bom argumento, tantas músicas péssimas também servem pra dançar. Após isso começa uma discussão sobre estilos de jazz, que possui vários, muitos dos quais não tenho nem idéia dos nomes, por isso prefiro pedir mais cerveja e mais cachaça, essa discussão vai longe e bebâdo ela ficará bem mais interessante.

Bom, no final, já estava bêbado e não me lembro bem da conclusão. Mas também... que conclusão? Essas discussões não tem conclusão, mas ao menos nós fazem divagar sobre alguns assuntos, desde a vida, até música, no final é tudo interligado.


Postado Originalmente em: http://almostdrunk.blogspot.com/2009/07/conversa-de-bar.html
Falta de tempo

Yes we're going to a party, party


Sem poema, sem crônica, sem saco, sem ressaca. Não estive na Rua Augusta, mas foi um aniversário que não tinha faz tempo: sem preocupação e sem falso sentimentalismo batendo à minha porta ou ligando em meu celular. Viva o clube da Ypióca!

cinema novo.

- Filha, o que você vai fazer hoje de noite?
- Vou ao cinema com as minhas amigas, pai.
- Ah, que bacana, meu amor. O que vocês vão assistir?
- O filme novo do Bob.
- Bob?
- É. Do Robert.
- Que máximo, filha. Adoro o Robert Redford.
- Quem, pai? Eu tô falando do Robert Pattinson.
- Não conheço, meu bem. Ele é bom?
- Ele é o melhor de toooooooodos, pai! E é lindo também.
- Ah sim, os famosos atores galãs. O que você tem a me dizer sobre o Alain Delon?
- Ãhn?
- É, deixa pra lá.
- Tá certo, pai.
- E sobre o que é o filme?
- É terror, pai. Com vampiros.
- Adoro filme de vampiros, monstros e criaturas assustadoras.
- Nossa, pai! Não sabia que o senhor gostava dessas coisas.
- Não só gosto como tenho uma coleção desses filmes guardada no armário.
- Que incrível, pai. E a gente pode assistir algum agora?
- Tá bem, mas vou escolher algum para a sua idade. Afinal, você só tem quatorze anos.
- Mas vou fazer quinze no próximo mês.
- Ok, ok... algum que alguém de quinze anos possa assistir então.
- As terríves criaturas vampirescas versus os os zumbies espaciais?
- Sim, filha. Não parece assustador?
- Que nome engraçado.
- Vou colocar o filme, quer pipoca.
- Não, obrigada, vou guardar meu estômago para a pipoca do cinema.
- Tudo bem, o filme tá começando.

- Pai, a imagem tá meio ruim.
- É assim mesmo, filha. Os grandes filmes estão nos baixos orçamentos.

- Pai, esse é o mocinho do filme?
- Sim, filha. Gostou dele.
- Ele tá fumando. Não gostei.
- hehehe... bom argumento, filha.

- Pai, essas criaturas são meio estúpidas mesmo?
- Parecem, né? Mas note como elas são assustadoras!
- Não muito, pai...

- Pai, a mocinha tá correndo para o último andar da casa onde não tem saída?
- Ahan, meu anjo. Mas note como ela é bonita e como seu cabelo se mexe.
- Nossa, pai. Muito idiota ela. Sério.
- A função dela é ser bonita, filha. Inteligente e herói é o mocinho.
- Que machista. Meu Deus...

- Pai, o vilão não vai se arrepender no final?
- Não filha, ele é mal de verdade.
- Mas ele tá vendo o amor dos dois ali na frente dele.
- Eu sei filha, mas ele tem o coração de pedra como todo bom vilão.
- Bom vilão é aquele que se arrepende, pai!

- Ah, pai que droga de filme! Tudo tá acabando bem e daí entram criaturas horríveis pela janela e começam a esfaquear todo mundo com facas de passar manteiga com sangue espirrando para tudo quanto é lado? Que sem noção!

- É filha, totalmente aterrorizante, não?
- Achei uma porcaria, pai. Preciso ir que a mamãe já tá chamando o elevador para me levar ao shopping. Depois eu te dou umas dicas de filmes, tá?

- Um beijo, filhota. Vai com cuidado.
- Tchaaaaau pai.


- Filme de terror? Que raio de filme minha filha vai ver no cinema?

Ordinary Life is Pretty Complex Stuff



Acontece que desde que eu vi American Splendor minha vida não é a mesma. O Harvey Pekar escreve coisas que são geniais a medida que a minha situação é a mesma que a dele e viver uma vidinha normal que nem essa minha é muito difícil. Nada acontece, e nao resta pra mim pensar em coisas grandiosas: tipo ser um rockstar, um putão, comer uma muher por dia, viajar e eteceteras e pontos reticentes...
Daí, quando pensei nessa tal ordinary life escrevi três passagens.

cena um. bright eyes – first day of my life

No dia em que decide se matar, Carlos muda toda sua rotina. Repentinamente já não mais penteia o cabelo, escova os dentes ou lava os olhos. Já não toma suco de laranja com torradas. Já não lê seu jornal ou dá um beijo nas duas filhas. Já não liga pra seus pais ou abraça sua mulher. Carlos, apesar de todas as mudanças, mantém sua gravata bem apertada, sua camisa bem passada e seu terno bem alinhado. Então, Carlos, sai às escondidas da família quando ainda está amanhecendo. Com olheiras por não ter pregado os olhos na noite anterior, com mau hálito por não ter escovado os dentes, com o cabelo bagunçado por não tê-los penteado e com os olhos remelentos. Entretanto, super bem-vestido. Em seu caminho ele não pensa muito, não tem nenhum arrependimento pré-ato ou chega a pensar nas filhas. Segue olhando os ladrilhos, as pichações, o emaranhado de fios elétricos que levam luz às pessoas (a mesma luz que falta a ele). Por um momento vem uma música em sua cabeça, ironicamente é uma música que se chama First Day Of My Life, ele cantarola mentalmente. Carlos segue até o lugar que escolheu, sobe umas escadas, pula uns muros, e chega ao topo. A altura não é tão grande, provavelmente a morte não seja iminente, mas da maneira que pretende se jogar ela se tornará. Carlos tira suas roupas, com exceção da gravata, e pula. A gravata foi um presente que ele ganhou de seu avô quando fez 18 anos, tinha acabado de passar no vestibular para direito. Junto com ela veio um prendedor, de ouro, com um brilhante no meio.

cena dois. bob dylan – don’t think twice, it’s alright

Os dois estão sentados numa mesa, em um restaurante. Pessoas legais comem saladas e salmão grelhado do lado, pessoas brindam do outro. Uns pedem a conta, e outros sentam-se. O restaurante é dividido entre fumantes e não fumantes. Na parte dos fumantes as cadeiras são mais confortáveis, as mesas mais espaçosas e a luz é menos incidente. Na parte de não fumantes as mesas são menores, as cadeiras menos confortáveis e o ambiente é mais claro. É um desses restaurantes moderninhos, com decoração legal e música de fundo. A música de fundo passa despercebida pela maioria, geralmente o programador nunca capricha, mas essa noite parece ter algo em comum com alguém de umas das mesas .
Lavínia é uma mulher de 34 anos que fuma, mas senta no lugar de não fumantes, ela já não consegue viver com seu namorado.
- Eu não consigo
- Consegue
-Já disse, não dá.
-Tente!
- Cansei
-Não seja assim, eu preciso de você
- Eu também preciso. Mais do que você, e é por isso mesmo que não dá mais.
Ela sai, não consegue olhar direto nos olhos de seu namorado. O que era pra ser um jantar se tornou um fim.

cena três. tom waits – wrong side of the road, blue valentines e temptation.

É a sua primeira dose. Geralmente ele pede cachaça, mas como recebeu hoje, inicia com uma dose de uísque, daqueles que varia entre 10 e 20 reais. João acaba de matar um garoto e recebeu uma bolada. O bar é figura carimbada, o bigode é seu amigo e ele pode escolher a musica que quiser. As duas primeiras doses são de uísque, mas logo depois ele vota pra boa e velha cachaça porque sabe que o mês vai ser difícil, encomenda como essa é difícil de aparecer pra ele. Lá pelas tantas quando uma voz rouca e forte rasga o rádio como um suplício, querendo a salvação, João se levanta já quase bêbado e vai ao banheiro. No banheiro ele improvisa uma carreira de cocaína que conseguiu com o bigode, mija e lava o rosto. Na volta surge uma companhia. Marta é conhecida do bar e de João. Faz o tipo puta, com unhas vermelhas batom forte e brincos de argola. Uma saia, uma camiseta dos ramones. Cabelos pretos, olhos mais pretos ainda e a pela branca, ainda boa. Marta está no alto dos 27 anos e começa:
- Oi Velho.
João se recontorce, sente a alcunha e retruca:
- Oi Puta.
Os dois não são de palavras e é por isso que se dão bem. João sugere cachaça, Marta pede uísque. O bigode intervém, seco, e serve um gim nacional, péssimo, sem gelo nem tônica nem limão porque está em falta.
- Hoje é dia de Punk, deu pra algum cara-naricisista-metrosexual que mora na augusta?
Marta ri e não fala nada, engole o gim.
A noite passa, devagar, os dois quase dançam, mas nenhum leva jeito e o espaço não dá liberdade.

infinito III - a busca da felicidade

Se tudo é ciclico, se tudo começa e termina sempre, pra assinalar o infinito, então o final não existe.

Afinal o final é o começo que por sua vez é o final afinal.

Então a felicidade não mora no final do caminho (ou no começo, que seja), ela mora no caminho!
tenho que cuidar do percurso, pra rechear de felicidade.

Pequenas conquistas e olhos abertos pra dentro de mim. Satisfação dos meus pequenos feitos.
Aí sim o caminho fica feliz.

Mas e o final?
O final é triste?

Expectativas


Alguns tem expectativas, o que eles esperam conseguir, alguns as levam como seu objetivo de vida. Ter uma mulher, ter filhos, ter uma casa, plantar uma árvore, escrever um livro... está é uma expectativa que a sociedade diz ser normal.
Mas outros pensam diferente, alguns querem apenas algo simples e outros querem alcançar o inatingível.Já ouvi dizer em "mantenha suas expectativas baixas para não se decepcionar". Isso facilita para que se consiga o que quer com mais facilidade, já que o que você deseja é fácil de ser alcançado. Mas e depois? O que fazer quando já se tem o que quer? Aí vem o tédio. A tediosa vida de não ter mais pelo que lutar. Alguns arrumam algo mais para tentar alcançar, outros apenas arrumam algo para passar o tempo.
Agora se o desejo for por algo difícil? Uma vida de superação e desafios constantes. Sempre lutando pelo que quer. Superação, uma luta constante por que não se consegue o que quer. Superação já parece uma coisa muito cruel, vc deve tentar superar obstáculos todos os dias para que a vida não te foda de vez, esses devem ser os que compram livros de auto-ajuda.
Quando era garoto tinha várias dessas expectativas, ou seriam delírios? pensei que hoje eu estaria em situação bem diferente do que estou. Não, não pensava em filhos, a árvore e tal, mas tinha outras coisas. Mas não aconteceu, podia estar desesperado lutando pelos sonhos de um adolescente, mas não sou mais esse adolescente.
Deixei de seguir a vida apenas perseguindo nesses sonhos, buscando um futuro em algo que pensei a 10 anos atrás. Não mantenho as expectativas altas ou baixas, apenas vou vendo o que acontece a cada dia, penso no que tenho de fazer hoje, e até daqui uns dias, mas não mais projeto meu futuro, já vi que meus projetos não deram certo mesmo, e se tivessem dado, putz, não aquilo não é mais nada do que quero hoje. Não quero ficar igual ao coyote em frente a tv entediado... muito menos tomar 5 minutos de alguém para falar a palavra do sr. Jesus. Prefiro que elas percam 5 minutos lendo besteira, mas só se quiserem.